Como a paternidade ativa vem transformando o ser pai

Carolina Moro

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De forma geral as propagandas e homenagens nos dias dos pais se resumem em ilustrar os momentos de brincadeiras com as crianças ou homens engravatados chegando do trabalho e sendo recebido pelos filhos. É recente o movimento paternidade ativa, que encerra a visão do pai provedor e vem discutir e reformular o papel do homem no cuidado dos filhos e, o coloca num papel ativo.

De forma geral, a discussão surge a partir de pai ativos que começaram a escrever seus dilemas e postar informações sobre o cuidado infantil, um assunto que de forma geral era exclusividade feminina. Paizinho, Vírgula!, Pai Mala, Papo de Homem são exemplos de blogs e páginas que se dedicam a apresentar e discutir temas relacionados à paternidade e cuidado infantil. Para Giovan Sehn Ferraz, professor de história e pai de Sebastian de 2 anos, a participação masculina é praticamente inexistente em grupos na internet tradicionais.

“Iniciamos um tópico, por exemplo, sobre a questão do sono e de como era difícil para mim balançar ele todo dia e para Pati (companheira) acordar várias vezes à noite pra dar o seio, e uma moça comentou falando da experiência dela que era muito semelhante, exceto que ela fazia tudo SOZINHA: balançar e acordar várias vezes pra balançar mais e dar o seio. Então, se pra nós já era difícil em dois, imagina pra essa moça.”

Segundo documento sobre paternidade ativa elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o papel do pai na visão ativa é permeado por níveis. O nível prático é o homem cuidar e se preocupar com as necessidades e demandas dos filhos e estar atendo as tarefas domésticas. A presença emocional é o segundo nível e se caracteriza pela construção do vínculo e a ligação emocional com o filho. Transformação pessoal aparece num terceiro nível que é entender o papel e responsabilidade de ser pai e como isso afeta o nível social. Para Giovan “educação, cuidado, tudo. Não deveria ser visto como diferente do papel da mãe. Poucas coisas não podem ser feitas, como parir ou amamentar no seio, mas tudo o que não envolve uma diferença biológica óbvia deveria ser, por princípio, responsabilidade conjunta.”

Ainda é um desafio para os homens

Segundo informações sobre o dossiê Paternidade no Brasil, elaborado pelo Instituto Promundo em 2016, as políticas públicas relacionadas à paternidade não são abrangentes, o documento afirma que o setor privado precisa compreender que “as relações de trabalho, procedimentos e políticas internas estão intimamente ligadas às condições necessárias para produzir justiça social no campo da equidade de gênero”. Bruna Sinigaglia pesquisadora de gênero e mercado de trabalho do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Cruz Alta, afirma que para garantir a permanência do homem em casa durante um período considerável ou até mesmo a redução de sua carga horária é necessário que as empresas colaborem para isso, “o pai precisa se fazer presente ele precisa estar diariamente compartilhando dos cuidados zelando pelos cuidados dos filhos assim como a mãe faz flexibilizando inclusive seus horários de trabalho para atender o filho.”

Para a pesquisadora as discussões em torno da paternidade ativa também se relacionam com a luta pela superação das desigualdades entre homens e mulheres e com o processo emancipatório da mulher. De acordo com Bruna “apesar de todas as mudanças sociais da contemporaneidade a mulher ainda está à frente nas atividades domésticas, dos cuidados com os filhos e são fatores que acabam impactando negativamente a sua profissão, pois gera um desgaste e uma menor disponibilidade que os homens.”

Uma paternidade mais ativa por parte dos homens além de colaborar com o bem-estar da família. Contribuí para que a mulher também possa se consolidar no mercado de trabalho com as mesmas condições que o homem. Bruna afirma que é “preciso que os pais tenham uma visão mais ativa do que precisa ser feito sem esperar com que as mães digam o que precisa ser feito.”

Como posso ser um pai ativo?

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. O abandono paterno é uma realidade cruel como afirma com o professor de história e pai do Sebastian, Gilvan “o abandono paterno existe em vários níveis, desde o pai que nega de fato o filho, não assume oficialmente, ao pai que faz tudo isso na teoria mas na prática não: não é co-responsável pelo filho, apenas “ajuda”, é auxiliar, ou ainda que confunde paternidade com provimento financeiro. Então, penso que a paternidade deveria ser vista e compreendida em pé de igualdade à maternidade, como co-responsabilidade sobre os filhos, e não como acessório.”

Dessa forma é urgente que os homens passem a ser ativos, segundo a UNICEF pais ativos são aqueles homens que exercitam uma relação afetuosa e emocional com seu filho. Mantém uma relação que vá além do provimento financeiro, participam dos cuidados diários e da criação do seu filho. Compartilham com a mãe as tarefas de cuidados com o filho e com a casa e estão envolvidos e informados nos momentos do desenvolvimento do filho, gravidez, nascimento, primeira infância, infância e adolescência.

Ser pai segundo Giovan “é ser humano e se confrontar com isso diariamente, com nossas potencialidades e limites, com o complexo de nossa existência. É cuidar, amar, educar, ser referência. É se preocupar, se divertir, se estressar. Lidar, bem ou mal, com o cansaço e as incertezas, com não saber o que fazer com as birras, com o sono, com a alimentação. Mas também é se encantar com o desenvolvimento surpreendente daquele ser-humaninho, seus saltos e suas grandes descobertas cotidianas. Se alegrar com aquela risada mais gostosa do mundo e dar o seu melhor para lidar com os momentos mais difíceis. Acredito que ser pai ou mãe é tudo isso. Não deveria existir uma distinção fundamental entre ambos quanto a essas coisas.”

Jornalista Responsável Carolina Moro (MTB 16364) para a Rádio Cidade FM, de Ibirubá/RS

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